A Igreja considera os sacramentos instrumentos indispensáveis para os fiéis acessarem a graça. O mais sublime deles é a Eucaristia porque proporciona para nós a chance de beber na fonte original de toda a graça, isto é, o próprio Jesus. Encontrar-se com Ele, adorá-lo e caminhar ao seu lado pelas ruas da cidade em que vivemos é uma experiência de alegria, benção e salvação.
Sabemos que a instituição da eucaristia é celebrada na Quinta-feira Santa e que a Festa de Corpus Christi – realizada 60 dias após o Domingo de Pascoa – ocorre em uma quinta-feira pelo mesmo motivo. A questão é: por que instituir uma festa para o Corpo de Cristo se ele já é sacramento da Igreja?
A resposta para essa pergunta exige recordarmos a época da criação da festa. Durante o século XIII havia na Europa pessoas que duvidavam de que o pão e o vinho consagrados, de fato, se transformavam no Corpo e Sangue de Cristo. Mais que duvidar, algumas pessoas falavam e escreviam que a transubstanciação era uma ilusão. Nesse mesmo período, um importante milagre aconteceu na cidade de Bolsena, na Itália, durante uma missa celebrada por um padre peregrino chamado Pedro. Sabemos que ele se dirigia à cidade de Roma – terra dos muitos santos e mártires – a fim de fortalecer sua fé na eucaristia que andava estremecida. No ápice daquela missa, de maneira milagrosa, o pão consagrado – o Corpo de Cristo – começa a gotejar sangue com grande frequência, formando manchas no corporal, assim, o sacerdote que vivia uma crise de fé fica maravilhado diante daquela ação divina e vê naquele tecido a face de Jesus.
Alguns anos antes desse acontecimento, uma jovem chamada Juliana, que se tornou santa, recebeu em sonho uma revelação. A princípio, viu um disco branco luminoso com uma mancha, passado algum tempo, através de muitas orações foi revelado a ela que o disco representava toda ação da Igreja no mundo, já a mancha, a ausência de uma festa dedicada ao sacramento da eucaristia. O Papa que institui a festa de Corpus Christi em 1264 – motivado pelo milagre do pão que gotejava sangue - é Urbano IV, o mesmo que anos antes, enquanto sacerdote, ouviu da boca de Santa Juliana a revelação que ela tinha recebido, ou seja, que era do coração de Jesus preparar uma festa para o mais sublime sacramento. Na época, o promissor sacerdote foi um dos padres que intercedeu junto ao bispo da região de Juliana para que fosse criada uma festa em honra do Corpo de Cristo. O bispo acatou e algumas outras dioceses aderiram, mas ainda era algo particular.
Algumas décadas depois, Urbano IV, por acaso, estava em Orvieto, cidade próxima de Bolsena. Ao saber do milagre eucarístico da boca do próprio Pe. Pedro, sentiu que devia convocar alguns teólogos para averiguarem tal acontecimento. Convidou os ilustres doutores da Igreja, São Tomás de Aquino e São Boaventura. Não demorou muito para que os teólogos afirmassem a veracidade do milagre, feito isso, foi realizada uma procissão de Bolsena para Orvieto trazendo o corporal com os fragmentos do Corpo de Cristo e as manchas do seu sangue presos ao tecido. Uma procissão linda da qual o próprio papa participou.
Desse modo nasce a festa linda que celebraremos hoje. Se na Quinta-feira Santa se institui a eucaristia - também se contempla a entrega de Jesus - o que nos causa inevitável dor. Já na quinta-feira de Corpus Christi, a Igreja celebra a alegria do Cristo que se fez sacramento e através do milagre de Bolsena e da visão de Santa Juliana, inspira-nos há mais de 700 anos a adorar o seu Corpo e Sangue e cantar sua glória, rogando suas bênçãos pelas ruas das nossas cidades.